" Imagine-se andando por uma calçada com os
braços carregados de pacotes e alguém colide brutalmente com você,
fazendo-o cair e esparramando seus mantimentos.
Quando você se levanta do meio de ovos quebrados, suco espalhado pelo chão, está pronto para gritar: “Idiota! O que há de errado com você? Está cego?”
Mas, bem antes que tome fôlego para falar, você percebe que a pessoa que colidiu com você é realmente cega.
Ela também está estirada no meio dos mantimentos espalhados e não
consegue se levantar, pois sua bengala está jogada no chão. A raiva pelo
tombo passa na mesma hora.
Imediatamente seu coração é tomado por uma compaixão e pela demonstração de simpatia e caridade.
Você logo se oferece para ajudar a pessoa a se levantar.
Com certeza, pede desculpas e se preocupa em saber se a pessoa se machucou,
se precisa de cuidados.
Esse é um lindo retrato de nossa vida.
Quando percebemos claramente que a fonte da desarmonia e da miséria no
mundo é a ignorância a respeito da dor e do problema do outro, podemos
abrir a porta do coração e permitir que a graça de Deus aconteça em nós e
através de nós.
Uma das maiores causas – se não a maior
– de nosso sofrimento é a maneira como enxergamos a vida e tudo aquilo
que nos acontece.
Na verdade, não são os acontecimentos que nos fazem sofrer.
Sofremos pela maneira como olhamos para os acontecimentos.
Todo ponto de vista é a vista a partir de um ponto.
Quando privilegiamos um ponto negativo, passamos a enxergar tudo com as lentes da negatividade.
O pior não está nem tanto no olhar negativo, mas na concentração estragada, encardida do olhar.
Precisamos aprender a olhar a vida pela ótica de Deus.
Para isso, necessitamos de alguns exercícios contínuos de aprendizado do olhar:
- Olhar a vida como dom e presente a ser cultivado; como graça que precisa ser
acolhida com responsabilidade e gratidão.
- Olhar a morte com a serenidade de quem sabe porque vive. Aliás, só
tem dificuldade de olhar a morte quem não aprendeu a saborear a vida.
Jesus ensinou, em Bethânia: “Se creres, verás a glória de Deus” .
(João 11,40).
- Olhar para si mesmo com paciência e generosidade. Às vezes é mais
fácil ser generoso com os outros do que com a gente mesmo. Tem muita
coisa que gostaríamos de mudar em nós que só depende de nós, mas que
ainda não conseguimos. Paciência e perseverança.- Olhar para os outros
sem as armas que costumamos trazer escondidas no coração, pelo
preconceito, pela inveja, pelo medo, pelo ciúme. Olhar para os outros
como convite para a nossa própria melhora.- _ -Olhar para as coisas
dando-lhes o devido lugar. Nada nem ninguém que esteja fora do coração
humano é capaz de preenchê-lo.
As coisas são instrumentais que nos ajudam, mas não
podem ser absolutizadas.
Olhar com caridade para aqueles que nos machucam – caridade suficiente
para compreendermos que, como nós, são pessoas limitadas, fracas,
falhas, sujeitas aos dissabores da vida.
-Olhar com
gratidão para as pessoas que nos amam, procurando corresponder a elas.
Saber-se amado é gota fundamental de cura, em qualquer tempo, para
qualquer idade.
- Olhar com humor: o humor é fundamental para o equilíbrio humano. Ele
nos dá a graça de tomarmos distancia de nós mesmos e dos acontecimentos.
Ele nos permite colocar todas as coisas em perspectiva e tirar o tom
dramático dos acontecimentos.
O humor ajuda a ver a vida com olhos novos, com novos pontos de vista.
O humor realça as incertezas de nossa vida, mostrando-nos que ela não é previsível.
Viver é acolher cada dia, como novo – completa e absolutamente novo.O humor nos ajuda a perceber que as coisas são relativas.
Quem é muito sério acaba se achando muito importante e por isso não
gosta do humor, que põe em risco a máscara, a couraça, a casca que
reveste o balão do orgulho prepotente. O humor ajuda a desinchar o
balão, pois quebra a casca.
“Aprenda a Olhar” (Pe. Léo, SCJ)
Do livro “Gotas de Cura Interior”
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