"O que me interessa no amor, não é
apenas o que ele me dá, mas principalmente, o que ele tira de mim: a
carência, a ilusão de autossuficiência, a solidão maciça, a boemia para
suprir vazios. Ele me tira essa disponibilidade eterna para qualquer um,
para qualquer coisa, a qualquer hora. Ele apazigua o meu peito com uma
lista breve de prós e contras e me dá escolhas. Eu me percebo
transformada pelo que o amor tirou de mim por precisar de espaço amplo e
bem cuidado para que ele se instale.
O amor tira de mim a armadura,
pois não consigo controlar a vulnerabilidade que vem com ele; tira
também a intransigência. O amor me ensina a negociar os prazos, a
superar etapas, a confiar nos fatos. O amor tira de mim a vontade de desistir com facilidade, de ir embora antes de sentir vontade, de abandonar sem saber por quê. E
é por isso que o amor me assombra tanto quanto delicia. Porque não
posso ignorar a delícia que sinto quando estou sozinha. E também não
posso fingir que quero estar sozinha quando o meu ser transborda vontade
de companhia.
O amor me tira coisas que eu não
gosto, coisas que eu talvez gostasse, mas me dá em dobro o que nunca
tive: um namoramento por ele mesmo. O amor me tira aquilo que não serve
mais e que me compunha antes. O amor tirou de mim tudo que era falta."
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