"Mas
se alguém perguntar como estou, direi apenas que estou indo. Sem
destino, sem bagagem. Talvez eu possa preencher o tempo com as coisas
novas que o tempo trouxer… Talvez no escuro de mim mesma seja possível
ver a luz… E mesmo que seja só uma vela acesa ao vento, será luz. Ainda
assim luz. Luz de um porquê qualquer, de uma desventura, de possíveis
alegrias ou esperanças diminutas que venham a brotar.
Mas
se alguém perguntar onde estou, direi apenas que em algum lugar. Sem
latitude, sem longitude. Um lugar qualquer onde possa reencontrar o
sonho que perdi e não me recordo onde… Um lugar qualquer onde o inverno
seja mais acolhedor e onde o calor possa crescer de dentro pra fora… E
mesmo que seja um lugar distante, será o meu lugar. Um beco, um canto de
poucos encantos, onde as pilhas de nada que levei, em decoração rústica
irão se fundir com os aglomerados de muito que eu encontrar.
Mas
se alguém perguntar pelos que deixei, direi apenas que os mantenho aqui.
Sem amarras, sem lonjuras. Cada qual ocupa seu próprio instante
exatamente como antes… Cada qual com o devido peso e valor que sempre
lhes atribuí… E mesmo que estes tantos sejam poucos, serão meus
companheiros nessa jornada. Uma estrada de pedras, um caminho de flores,
uma vida a ser vivida.
E se
ainda assim alguém perguntar quem sou eu… Ah!… Direi apenas que sou eu
mesma… Aquela que sempre fui, dando voltas pra atravessar o mundo…
Aquela sem jeito certo; sem o traquejo entre últimos e primeiros, só
meios… Aquela que mantém os olhos abertos, a grafia petulante e um
friozinho na barriga; buscando uma bagagem de tempos novos, em um lugar
que eu mesma escolhi, com aqueles que sempre amei."
(Barbara Nonato)
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