Enquanto juntamos retalhinhos...ouvimos doces melodias...

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Antes do final do dia
Será necessário acreditar de novo, antes que o dia acabe. Acreditar na esperança. Teimar com a verdade. Insistir na liberdade. Fazer jus a lucidez, quando for absolutamente necessário escolher caminhos.
Antes que o dia acabe, é preciso aprender a lidar com as urgências para que elas desocupem as vagas. Há que se tomar decisões sem tropeções. Há que se cotar o valor das coisas importantes e com isso, fazer uma reserva considerável dos imprescindíveis para quando os invernos surgirem.
Antes que o dia acabe que ouse morar no tempo, todos os minutos possíveis de escapismo para render poesia. Que se deseje claridade para enxergar o cenário, sem contudo ser cruel, caso ele se apresente frio, desbotado e enfadonho. Que não se abandone o lugar pela falta de cor.
Antes que o dia acabe, que dê tempo para acolher o arrependimento das palavras que foram ditas no escândalo da incerteza. Que o relógio voe tão rápido para não haver tempo de abandonos, sem antes ter tentado todas as alternativas.
Antes que chegue ao final do dia será preciso passar as lições a limpo, uma a uma para não estilhaçar as verdades contidas e que dão sentido aquilo que até então foi vivido. Que ninguém descarte a dúvida que instiga rendição ao que não está na superfície. E seja como for, que se mergulhe no enfrentamento da solidão, sem terceirizar e dar crédito ao outro pela culpa da vã interpretação do necessário vazio que ronda nessa antessala da vida.
Antes que o dia vá dormir, que se estabeleça o óbvio, vinculado a besta mania de pensar inclusive besteiras, com a maior naturalidade porque não há privação para a dor, o amor, o enfrentamento dos problemas, que sinalizam um estado não anestesiado para o lícito.
Antes que o dia se despeça de uma vez, ninguém fará uso de provas contundentes, protagonizada com a infeliz mania de mostrar a alma sem nenhuma necessidade. Seria doloroso explicar o que é mais delicado descobrir com a naturalidade de uma convivência saudável mesmo que surja ora enrugada, ora esticada, ora encolhida. Essa é a preciosa verdade desobstruída de comodismo.
Antes que o dia escureça não esqueça, não represente, não abandone, não tropece, sem aproveitar a essência de cada ato. Para viver bem o dia não há imunidade que valha a pena.
 

Ita Portugal

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