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domingo, 27 de setembro de 2015

Crónicas de outono II (...a primavera que és em mim)


Foi naquele outono que te vi e foi nesse mesmo outono que te perdi.
Outras estações vieram, e os meses e os dias e as horas e os segundos, desses mesmos dias, e a memória recorrente do que achava que era mas que não foi.
E a firmeza de não permitir que esse outono me tirasse a esperança de uma próxima primavera.

E foi então que, de novo, surgiste…
Vieste na forma de uma folha que cai no outono; sem alarde, em silêncio e com a vagareza e suavidade de quem percorre um caminho que sabe ter de ser feito.
E no entanto, trazias em ti a minha primavera, porque todo eu me despontei e iluminei me despertei e colori e ali fez-se nascimento e princípio de tudo em mim
Apesar das muitas estações que haviam passado por nós, reconheci-te no imediato, porque aquilo que é evidente, distingue-se por ser singular.

Eras tu que ali estavas, de novo, desta vez passando como quem passeia, caminhando como quem desliza.
E eu, mais uma vez, dentro de um autocarro e o mundo que é universo e globo terrestre e planetas e astros, ficou resumido à estrela que reluzia no passeio e que eras tu.

E dessa vez, não foi a timidez que me impediu a reação imediata, apenas o teu brilho causou em mim o deslumbre e o embasbacamento, que me colocou em mero modo contemplativo.
Foi então que, casualmente, olhaste na direção daquele autocarro que, por ti, passava e reparaste na janela onde se pasmava o passageiro atónito, que era eu.
E foram os teus olhos, ao reconhecer-me, que transmitiram, ao teu sorriso, a ordem para demonstrar a satisfação por me rever.
E foi o teu sorriso que me despertou da perplexidade e me impulsionou do banco, para a porta de saída, onde tu já me aguardavas.

Há silêncios que dizem tudo. Há emoções que se abstêm de se pronunciar, para não serem redundantes. Há omissões de palavras que são expressivas.
Há quietude, calma e sossego, por fora, que são frenesim, furor e agitação, por dentro.

Há carícias que conjugam em si afeto e afago, que ajustam desejo e querer, que conciliam espera com esperança.
Há gestos que chegam tarde mas vêm a tempo.

E há beijos que são isso tudo e onde está tudo.

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Paulo Gonçalves Ribeiro

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