Passara já tanto tempo desde que nos separáramos.
E esse tempo passara rápido; passa sempre mais rápido o tempo quando não esperamos por coisa alguma.
E agora ali estavas tu, tanto tempo depois, e agora ali estava eu, tão pouco tempo depois.
Afinal
parecia que o tempo não passara assim tão depressa, nem me parecia,
agora que te revia, que tivesse passado assim tanto tempo.
Não é o tempo que pára, é a saudade que faz parecer que as coisas pararam no tempo.
E ao ver-te senti saudades que me mostraram que o passado é algo que está sempre presente e que é ilusória a sensação de que passado, presente e futuro é algo distinto entre si.
Mas
agora ali estavas tu e eu, tal como combinado, dois dias antes, quando
marcáramos encontrar-nos numa esplanada neutra, onde nunca antes
tínhamos estado os dois juntos.
(Os sentimentos não conseguimos evitar trazer connosco mas podemos evitar os objetos e os lugares que nos avivam as memórias.)
Não
havia mágoa ou despeito entre nós, não deixáramos que aquelas angústias
que experimentáramos como algo novo se viesse a transformar numa ferida
antiga.
Cumprimentámo-nos com dois beijos que pareceram externos a nós.
Estes eram os beijos de outros, os beijos de dois estranhos. Dois “estranhos-íntimos”.
Era
assim que me sentia, um “estranho-íntimo”; alguém que partilhou uma
enorme intimidade com uma pessoa e que agora tem de vestir a capa da
estranheza.
A nossa intimidade tinha sido tão grande que nos
sentíamos um com o outro como se estivéssemos sozinhos e agora estávamos
ali tentando representar o papel de dois estranhos que se sentem
desacompanhados.
Pareceste-me tão livre, tão segura e depreendida e, no entanto a pergunta que me fizeste,
mal me tinha sentado na cadeira da esplanada, continha todo um interesse:
« Se soubesses que ia doer tanto, ter-me-ias amado mesmo assim?»
Olhei-te no interior dos olhos que, afinal, ainda não me eram estranhos, e respondi-te:
«
Ainda que a lembrança da nossa felicidade seja agora nostalgia e a
memória da dor, doa sempre, como poderia evitar não te amar se não me
foi dado escolher!?»
E depois perguntaste se passado tanto tempo ainda sentia a tua falta.
(Perguntas tão íntimas para dois- supostamente- tão estranhos)
Mas eu respondi-te sem estranheza:
« Não sinto a tua falta mas sinto a falta do que levaste de mim contigo, quando deixaste de estar comigo!»
E
quando nos apartámos, talvez tenha sido a minha imaginação a sentir que
também tu, como eu, ias com uma enorme vontade de ficar.
Mas do que fiquei com a certeza foi que eu iria sempre sentir a tua presença na minha saudade.
E nem desgostava disso.
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Paulo Gonçalves Ribeiro
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