Enquanto juntamos retalhinhos...ouvimos doces melodias...

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Passara já tanto tempo desde que nos separáramos.
E esse tempo passara rápido; passa sempre mais rápido o tempo quando não esperamos por coisa alguma.

E agora ali estavas tu, tanto tempo depois, e agora ali estava eu, tão pouco tempo depois.
Afinal parecia que o tempo não passara assim tão depressa, nem me parecia, agora que te revia, que tivesse passado assim tanto tempo.
Não é o tempo que pára, é a saudade que faz parecer que as coisas pararam no tempo.
E ao ver-te senti saudades que me mostraram que o passado é algo que está sempre presente e que é ilusória a sensação de que passado, presente e futuro é algo distinto entre si.

Mas agora ali estavas tu e eu, tal como combinado, dois dias antes, quando marcáramos encontrar-nos numa esplanada neutra, onde nunca antes tínhamos estado os dois juntos.
(Os sentimentos não conseguimos evitar trazer connosco mas podemos evitar os objetos e os lugares que nos avivam as memórias.)

Não havia mágoa ou despeito entre nós, não deixáramos que aquelas angústias que experimentáramos como algo novo se viesse a transformar numa ferida antiga.

Cumprimentámo-nos com dois beijos que pareceram externos a nós.
Estes eram os beijos de outros, os beijos de dois estranhos. Dois “estranhos-íntimos”.
Era assim que me sentia, um “estranho-íntimo”; alguém que partilhou uma enorme intimidade com uma pessoa e que agora tem de vestir a capa da estranheza.
A nossa intimidade tinha sido tão grande que nos sentíamos um com o outro como se estivéssemos sozinhos e agora estávamos ali tentando representar o papel de dois estranhos que se sentem desacompanhados.

Pareceste-me tão livre, tão segura e depreendida e, no entanto a pergunta que me fizeste,
mal me tinha sentado na cadeira da esplanada, continha todo um interesse:
« Se soubesses que ia doer tanto, ter-me-ias amado mesmo assim?»

Olhei-te no interior dos olhos que, afinal, ainda não me eram estranhos, e respondi-te:
« Ainda que a lembrança da nossa felicidade seja agora nostalgia e a memória da dor, doa sempre, como poderia evitar não te amar se não me foi dado escolher!?»

E depois perguntaste se passado tanto tempo ainda sentia a tua falta.
(Perguntas tão íntimas para dois- supostamente- tão estranhos)
Mas eu respondi-te sem estranheza:
« Não sinto a tua falta mas sinto a falta do que levaste de mim contigo, quando deixaste de estar comigo

E quando nos apartámos, talvez tenha sido a minha imaginação a sentir que também tu, como eu, ias com uma enorme vontade de ficar.
Mas do que fiquei com a certeza foi que eu iria sempre sentir a tua presença na minha saudade.
E nem desgostava disso.

-----------------------------------------
Paulo Gonçalves Ribeiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário