A gente nunca sabe quando vai tropeçar
na sorte. Tem que estar distraído. Suponho. Bem distraído. Às vezes,
pode ser até bem no meio do mato. Subestimei o valor dos caminhos.
Superestimei o valor de outros. O meu pra menos. O seu pra mais. E você
me avisou, além do mais.
Nunca se sabe onde nos aguarda a sorte.
Ou se ela existe. Ou se ela virá. Ou por onde ela andará. Nem pra mais,
nem pra menos, seguimos a balançar os cabelos que é o que de mais
perto da sorte o vento nos traz. Uma pequena sorte por vez. Um dia,
talvez, uma maior. Quem sabe... ( 12:26) Seria a sorte. Não seria.
Desconhecidos são os momentos. Reconhecer o momento. Sob qual argumento.
Ganhar é reconhecer. E se ela resolve aparecer...
O certo é que se a sorte pintar, não há
o que negociar. Não há liberdade que dê conta do mais livre dos atos:
Se prender. Terá sido. Não sei. Não tenho como saber. Sei que logo mais
cedo o vento passou pela flor do mato, e de súbito, parou. Todos os
seres miúdos pararam pra ver o vento suspenso.
Não dá pra ver o vento. Ainda mais
parado. Mas dá pra perceber, mesmo sem ver o seu rastro. É tipo um
perfume. Uma coisa que se forma em torno de onde ele está. Um hiato. Em
frente ao canteiro que se fez sozinho, uma mistura de matinhos e flores
minúsculas, entre elas a flor miúda, subestimadas criaturas verdes e
fortes, TREVOS.
Não trevas. TREVOS. Trevinhos de três
folhas. Um leve balançar anunciava. Era por ali que o vento estava.
Procurando. Analisando. Cheirando. Uma rajada faz com que algo se revele
mais ao fundo. Do canteiro que se fez sozinho. Nem um pio se ouvia.
Todos junto com o vento. E aí se viu: um trevo de quatro folhas.
Um trevo de quatro folhas. O vento atrás
da sorte. Quem diria... No meio deste matinho nos confins atrás de um
mundo qualquer, vento que é vento não abre mão da sorte. Mas ele foi
gentil. Em apreensão, todos os seres miúdos pensaram: lá vem vendaval!, o
vento vai levar a sorte com ele. Mas, não!.
Ele ficou ali. Parado. Enamorado da
criatura trevo. De quatro folhas. Chamava-se sorte. E vimos isso de
perto, marcava o relógio vinte e seis minutos para além do meio-dia.
Mais, ninguém soube, nos coube a discrição de deixa-los a sós.
A sorte e o vento. No meio do mato. Onde ninguém imaginava.
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