Enquanto juntamos retalhinhos...ouvimos doces melodias...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Não é prosa. Também não é poesia. É só um buraco negro no meio de mais uma tarde vazia. Embora o vazio nem exista. O vazio está cheio de substância. A substância que está em todas as coisas, com ou sem concordância. O que é deveras interessante. Existe o vazio. Existe a substância que ocupa todo o vazio. E existem substâncias que se agrupam e escapam do vazio. Formando as coisas. Palpáveis. E as intocáveis. E ainda assim, tudo parece, à todos, vazio. O que me faz pensar que esse mundo onde vivemos agora além de ser limitado, é habitado por seres incapazes de criar bem com as substâncias que têm . Nós no caso. Não nós dois, três, quatro, mas todas as criaturas do pedaço.
Tem tanta gente no mundo. Carteiros, padeiros, carpinteiros, jardineiros, donas de casa, artesãs, cortesãs, doutoras, doutores, amadores, pais, mães, filhos, avós, moradores de casas, de calçadas, coisas e mais coisas e mais coisas, a alegria morando junto à agonia, de manter, permanecer, pertencer, crescer na vida, sentir-se acolhida, gente querida, gente sofrida, e toda gente tentando tocar o vazio com as mãos. E criar desenhos no ar.
Transformar o intangível em algo possível, ignoram a ronda do destino, fazem, correm, rezam, velam, se descabelam, meio modernos, meio homens das cavernas, bebemos em casernas, acendemos arandelas para o mal se afastar, para o bem suplantar a dor, ignorando ainda o mistério, da fusão, que possibilita. Quem se habilita à alguma explicação... cientistas, analistas, artistas, equilibristas, os reis do mundo, os bem nascidos, os mal dormidos, os tranquilos, na madrugada, ou o senhor que dorme logo ali, na outra calçada...

Na substância está a cura e a loucura. Está o amor e o desamor. Está a beleza e a podridão. Está o conforto e a agonia. Os devaneios e as noites frias. Os paralelos que nunca são alcançados. Os peixes içados, os laços dados, os nós desatados, os sonhos sonhados, os enlaces, os impasses, enquanto corremos tateando nossas parcas conquistas, perdemos de vista a confirmação de que tudo é composto de vazios de ilusão, um imenso buraco negro disfarçado de céu.
[Devoradores de estrelas]

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