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sábado, 29 de agosto de 2015

O DICIONÁRIO DOS LOUCOS - VOLUME II

SONHER: verbo que indica a ação de fazer aquilo que se sonha fazer. Habitualmente vistos como intangíveis (e inatingíveis) pelas pessoas normais, os sonhos, para os loucos, são absolutamente exequíveis, totalmente concretizáveis. Nesse sentido, fazem tudo o que podem, até que a última força abandone o seu corpo, para os conseguir realizar. Será, muito provavelmente, por culpa de tanto sonher que os loucos são apelidados de loucos pelas pessoas normais. Mas isso só acontece até ao momento em que o louco consegue mesmo – e consegue tantas vezes - alcançar os seus sonhos. A partir daí, as pessoas normais passam, de forma algo eufemística, a tratá-los por gênios.

ORGASMAR: verbo que indica a ação de procurar o orgasmo em cada ato efetuado. Habitualmente vistos como apenas ligados ao ato sexual pelas pessoas normais, os orgasmos, para os loucos, são peças fundamentais de todo um puzzle que os pode catapultar para a felicidade. Para os loucos, o orgasmo não é apenas o sexual – embora apreciem, e muito (sem tabus bacocos nem meias-palavras nem medos), esse lado do orgasmo. Nesse sentido, os loucos procuram, em todos os movimentos que executam, em todas as ações que praticam, o maior prazer, sem se preocuparem com a raiz preconceituosa associada a esse acto. Por exemplo: é perfeitamente normal, para um louco, procurar prazer no simples ato de pintar a casa, de conduzir o carro, de tomar o pequeno-almoço, de lavar a louça ou de passar a manhã a fazer um relatório. No fundo: para o louco, qualquer ato, por mais banal e presumivelmente desinteressante que possa parecer, é passível de lhe oferecer prazer: qualquer ato pode contribuir para lhe oferecer mais um orgasmo. É assim perfeitamente usual ver um louco a festejar ter conseguido terminar uma ata que escreveu para a reunião de condomínio como se tivesse acabado de ganhar o Prêmio Nobel. E, para ele, até foi exatamente a mesma coisa. Porque, para o louco, não interessa muito, ou quase nada, o valor externo que determinado ato tem; interessa, isso sim, o valor interno que cada ato tem em si.

CAGUETAR: verbo que indica a ação de cagar na etiqueta, no instituído como correto pela sociedade. Habitualmente vistos como essenciais pelas pessoas normais, os costumes e obrigações sociais são, para os loucos, pensados como outra coisa qualquer: se fazem sentido ele pratica-os; se não fazem sentido não os pratica. O louco tem, então, essa estranha mania (tão incompreensível para as pessoas normais) de pensar sobre o que está à sua volta e só depois agir, independentemente de estar, ou não, pré-determinado, por coisas tão idiotas como a tradição, que devem ser feitas. É neste ponto que grande parte do conflito entre os loucos e as pessoas normais acontece: é frequente ver pessoas normais chocadas por verem, por exemplo, um louco a cantar no meio da rua ou a dançar nu à chuva. Por falar nisso, hoje está a chover. Eu já volto.

Pedro Chagas Freitas

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